terça-feira, 31 de julho de 2012

A Catedral de Notre Dame em Paris


Fachada Ocidental. Foto: Site Oficial

























Atração turística mais famosa da Île de La Cité e ícone da arquitetura gótica mundial, talvez  a Notre Dame seja também o monumento que melhor resume a história de Paris.
Encomendada pelo Bispo de Sully em 1159, teve sua pedra fundamental lançada em 1163, marco inicial de dois séculos de trabalho que envolveu um verdadeiro exército de  artesãos medievais, sob o comando de sete arquitetos.
A igreja de Nossa Senhora (Notre Dame) foi testemunha de grandes eventos da história da França, incluindo a coroação de Henrique VI em 1422 e a de Napoleão Bonaparte em 1804, retratada na célebre pintura de Jacques-Louis David, exposta no Museu do Louvre.


A Coração de Napoleão - Musée du Louvre

Durante a Revolução Francesa a catedral foi depredada e rebatizada de Museu da Razão. Assim como ocorreu no Jardin des Tuileries, muitas de suas obras de arte foram destruídas, como as estátuas dos reis de Judá, decapitadas pelos revolucionários, ávidos por eliminar tudo aquilo que consideravam símbolos da monarquia. As que existem hoje na fachada ocidental são cópias.


É curioso observar como a evolução humana segue uma trajetória pendular. Caminhamos assim, errando de um lado a outro, oscilando entre excessos e extremos para tentar encontrar o equilíbrio.  Penso que foi justamente por causa dessa característica humana, que, sob a bandeira das novas luzes, o furor revolucionário acabou por praticar o obscurantismo, aniquilando obras inestimáveis da cultura de seu povo, e manifestando traços da mesma tirania que proclamava abominar.
Vieram dias mais ensolarados, e a literatura de Vitor Hugo buscou inspiração na bela catedral para nos legar a história do corcunda Quasímodo e da cigana Esmeralda, no clássico "Notre Dame de Paris", publicado em 1831.

Foto: Site Oficial
Sob o foco arquitetônico, destacam-se a Rosácea Oeste, o medalhão de treze metros de diâmetro retratando a virgem Maria que ocupa o centro da fachada ocidental (frontal), rico em tons de vermelho e azul; A Galeria dos Reis, logo abaixo da Rosácea, em toda extensão da fachada, com as estátuas reconstituídas de que falamos há pouco; As duas torres com as legendárias Gárgulas, estátuas proeminentes que reúnem a função de desaguadouro, ao permitir o escoamento das águas pluviais, e de elemento decorativo integrado ao contexto religioso, interpretado por vezes como figuras protetoras, mas também como lembrança dos pecados humanos.




Rosácea
Galeria dos reis

O interior da catedral é de tal riqueza que seria necessário um artigo somente para tratar dele. Prefiro usar estas últimas linhas para falar do aspecto turístico. Para quem tem disposição e bom preparo físico, é possivel a subida ao topo das torres, de 69 metros e 386 degraus. O horário é de 9:30  às 19:30 (23:00 h nos fins de semana de verão). No inverno é de 10:30 às 17:30.
A estação de metrô Cité é a mais próxima da igreja.
Imperdíveis os concertos de música clássica, todos os domingos às 16:30 h, tanto pela excepcional acústica da nave central quanto pelo centenário órgão da catedral.
Ao sair, não se esqueça de visitar  a Place Jean XXIII, atrás da Notre Dame, uma das locações do filme Meia Noite em Paris, recente sucesso de Woody Allen nos cinemas brasileiros.

Site oficial, com as fotos que ilustram o post, história e programação musical: www.notredamedeparis.fr


segunda-feira, 30 de julho de 2012

Firenze: a Catedral de Santa Maria del Fiori


Inicio hoje uma série de artigos sobre igrejas que se notabilizaram como pontos turísticos. É claro que não pretendo esgotar o assunto, e mencionarei apenas as que tive oportunidade de conhecer.
Que venham outras, com o tempo.
A primeira é a bela Catedral de Santa Maria das Flores, em Florença (Firenze, na língua original).
Conhecida como o Duomo de Firenze, a igreja, cuja construção iniciou em 1296, foi dedicada a Santa Maria, embora sua denominação faça lembrar o primitivo nome da cidade, Fiorenza.

www.odolcefarniente.blogspot.com


Batistério - Fachada
www.odolcefarniente.blogspot.com
Detalhe da Fachada

A história da construção da catedral se prolonga por séculos. Para se ter idéia, a fachada atual, em estilo neogótico, é do século 19 (1871). Uma anterior, inacabada, foi demolida em 1588.
A despeito da bela fachada e do círculo de mosaicos florentinos e venezianos que decora o interior do Batistério, sem dúvida os componentes mais famosos do conjunto arquitetônico são o duomo e o campanário.
A impressionante cúpula de 45 metros de diâmetro e 91 de altura foi projetada pelo ícone renascentista Filipo Brunelesco e construída de 1420 a 1434. A face interna é ricamente ornamentada com afrescos de Giorgio Vasari representando o Juízo Final. Após sua morte em 1574 o artista foi substituído por Frederico Zuccari, que concluiu os trabalhos cinco anos depois.

Afrescos do interior do Duomo
Detalhe dos afrescos - O Juízo Final

O Campanário, ou Campanile, foi projetado por Giotto como uma coluna que se erguia em forma de flecha. Contudo, até sua morte, em 1337, apenas o primeiro piso havia sido concluído. Assumiu então Francesco Talenti, que desistiu do coramento da torre, conforme o projeto de Giotto, e a manteve com 85 metros ao invés dos 122 do desenho original.


Uma breve digressão: Giotto di Bondone foi um pintor e arquiteto italiano considerado o precursor da pintura renascentista. Representante maior da arte do período gótico, Giotto foi o elo entre o gótico e a renascença por meio da inovação que introduziu em seu estilo. Seus afrescos, de estilo gótico, adornam as paredes internas da Catedral de São Francisco, em Assis, na Úmbria (região italiana adjacente à Toscana), outra igreja notável, também sob o aspecto turístico.
Programa muito procurado pelos turistas é a subida do Campanile ou do Duomo, de onde se descortinam belas paisagens de Florença.  A visão do topo do Duomo me pareceu melhor, por sua  altura e localização.

Fontes das referências históricas: 
Florença - Arte e Arquitetura; Rolf Wirtz. Ed. Konemann.
O Livro de Ouro de Florença; autores diversos. Ed. Bonechi

Vista do alto do Duomo - a cúpula verde é a famosa Sinagoga de Florença

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Cultus Boni: Fruto de um vinhedo ancestral


A Badia a Coltibuono, como lhes disse, é um vinhedo de mil anos, e o primeiro onde se tem registro de produção regular e sistematizada de vinhos em toda a Europa.
O principal vinho da Badia, produzido somente em anos especiais, recebe o nome de Cultus Boni. A safra de 2003 foi excelente, e recebeu diversos premios da crítica especializada (Gambero Rosso, Wine Spectator, etc.) O corte do vinho é 80% Sangiovese e pequenas quantidades de variedades locais, como a Colorino.
Os experts me perdoem, mas nem sempre gosto da forma tradicional com que se descrevem costumeiramente os vinhos. Principalmente se essas impressões não são manifestadas em torno da mesa, em uma degustação.
Tecer essas considerações a quem não está compartilhando o vinho, e talvez não o conheça, me soa indelicado, quase como comentar detalhes de momentos secretamente desfrutados ao lado de uma bela mulher.
Peço desculpas, então, aos enófilos conservadores mas não ouvirão de mim sobre as notas de carvalho e o aroma de cereja madura permeado por toques longuíquos de baunilha. Limito-me a dizer que o vinho é muito equilibrado, com força e acidez balanceadas. Agrada ao paladar e faz muito bem à alma.
Particularmente aqui deixo de exaltar as impressões sensoriais para convidar o leitor a refletir sobre quantas gerações terão dedicado seu suor e calejado as mãos para que este fruto da terra chegasse até nós.



Portal da Capela Medieval - Badia a Coltibuono


E assim, sem se dar conta disso, aquelas pessoas venceram anonimamente a efemeridade da existência humana.

Badia a Coltibuono



A Badia a Coltibuono é um antigo mosteiro fundado no ano 1.000 da era cristã por monges da Ordem de Vallombrosa.
Localizada no alto de uma colina na bela região de Chianti, na Toscana, a Badia a Coltibuono foi o primeiro vinhedo europeu do qual se tem registro de produção regular de vinhos, desde o ano 1.051.
 Daqueles tempos imemoriais até os dias de hoje, a vinicultura artesanal dos monges deu lugar à moderna estrutura empresarial que, sem perder os ares medievais, transformou o lugar em um dos importantes produtores agro-vinícolas da itália.
Atualmente, além da produção de vinhos e azeite a Badia possui um conhecido restaurante, que oferece cursos de culinária toscana, e uma pequena pousada.
A vista do alto da colina é deslumbrante, e uma ótima opção de passeio é um almoço na Badia, durante um giro pela região do Chianti.



Badia a Coltibuono - Antigo Mosteiro

Vista da colina - Badia a Coltibuono


Capela da Badia - Ano 1.051


Interior da Capela da Badia - Ano 1.051



Chega-se até lá partindo de Florença pela Autoestrada A1 sentido sul (SUD). São 68 km. Na saída Valdarno pegue a SP408 na direção Siena (atenção que a entrada é pequena, eu já errei este caminho e tive que voltar 20 km). Há boa sinalização, e é fácil achar a Badia.
Saindo de Siena, pegue a mesma SP 408, na direção de Gaiole in Chianti (outra cidedezinha maravilhosa) . O trajeto é de 36 km apenas.
Aproveite a viagem pela SP 408, que passa por toda esta região vinícola, a revela paisagens espetaculares de vinhedos e oliveiras até onde a vista alcança.



Vinhedos do chianti -  SP 408


Vista da estrada - SP 408




Badia a Coltibuono






Monteriggioni: uma viagem no tempo

Monteriggioni é um burgo (cidade medieval murada em torno de um castelo feudal) totalmente conservado, e um dos muitos passeios interessantes da Toscana. Uma boa opção é incluí-lo no roteiro de uma tarde durante a visita à região de Chianti, da qual falaremos depois.

Erguido sobre um monte no início do século 13 pelos nobres de Siena, como um posto fortificado avançado entre esta cidade e a inimiga Florença, Monteriggioni, cujas torres são citadas por Dante Alighieri na Divina Comédia, resistiu às guerras e ao tempo e se tornou município independente em 1777.


Hoje, felizmente é um destino ainda desconhecido pelo turismo de massa. As muradas que circundam o burgo tem patamares por onde se pode subir e caminhar ao longo de toda sua extensão apreciando a belíssima vista da colina e das plantações de oliveiras e vinhas que a circundam.

Vista interna do muro, com a área de observação

O interior mantém as pedras da época da construção original. Há duas pequenas pousadas, uma loja de antiguidades  e dois restaurantes onde se aprecia bons vinhos, inclusive vendidos em taça, o que permite uma degustação mais variada.
Monteriggioni fica a 15 km de Siena e a 60 km de Florença.
O acesso de carro é fácil. Partindo de Florença pega-se o Raccordo Autostradale Firenze Siena, via expressa bem sinalizada entre as duas mais importantes cidades da Toscana. Depois de aproximadamente 45 km, avista-se a saída para Monteriggioni.
Passeie pelos jardins da cidadela, visite a antiga igrejinha medieval e perca-se em divagações sobre como seria ter vivido ali... Monteriggioni vale a visita!

Vista externa da torre e da muralha

O Que é Turismo?

Turismo talvez seja a palavra da língua portuguesa com maior variação de significados. Isso porque cada um tem seu próprio conceito do que deve ser a experiência de uma viagem turística, e a profundidade dessa descoberta.

A nós interessa sempre tentar captar um pouco da "alma" de cada lugar. Sua história, molde sobre o qual se forjam os costumes de seu povo.  A visão dos filhos daquela terra sobre sua pátria e sobre si mesmos. 
E assim é que vamos, a cada viagem, buscando ir além da camada superficial que o turismo de massa oferece, na tentativa de ouvir a história real de cada lugar sussurrada pela voz do tempo nas praças, nos mercados, nos monumentos, no campo e nas cidades.